APRESENTAÇÃO

Tecer democracias a partir dos territórios de vida e re/existência: estar aqui e ter muito a dizer

O Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico, em parceria com o Geledés – Instituto da Mulher Negra, publicará durante 10 semanas textos escritos por mulheres de diferentes coletivos, movimentos sociais e organizações da sociedade civil, com a atuação voltada para justiça territorial, direito à cidade, emergência climática e antirracismo com um mote provocador: “Tecer a democracia para nós: nas ruas, nas cidades, no campo, nas florestas e nas águas.”

Esta série de textos dá continuidade a um projeto que nasceu em meados de 2021, em um momento em que o Brasil enfrentava duas grandes crises: a pandemia global da Covid-19 e um Estado instrumentalizado para não oferecer as respostas necessárias à gestão da vida durante a crise sanitária. Enquanto isso, nas periferias e favelas, as operações policiais seguiam com “normalidade” – e o uso dessa palavra nos remete ao choque que esse passado recente ainda nos causa ao lembrar da morte de João Pedro.

O projeto surgiu como um espaço para que mulheres racializadas registrem o testemunho de seus olhares, compartilhando o que veem no cotidiano de seus bairros e comunidades, o que aprendem, formulam e articulam politicamente nos territórios onde nascemos, moramos e nos deslocamos. O convite à escrita carrega, assim, a vontade de conhecer mais sobre nossos sonhos, sem esconder a importância de fabular enquanto sujeitos políticos.

Além de produzir memória, o projeto busca promover o encontro entre aquelas que aceitaram o desafio de falar, expor e apresentar ideias sobre o Brasil, e aqueles e aquelas que buscam essas ideias em um cenário político cada vez mais hostil às nossas palavras.

Esse movimento insistente de construir um discurso sobre nós e nossos territórios, a partir do encontro, só poderia acontecer no Portal Geledés, o primeiro portal de uma organização da sociedade civil no Brasil, criado em 1997. Como contou Sueli Carneiro no episódio 50 do podcast Tecnopolítica, o Geledés foi pioneiro nesse espaço de diálogo, resistência e intercâmbio.

A segunda edição do projeto ocorre em um ano crucial para a agenda de luta das mulheres negras e afro-indígenas no Brasil e no mundo. Em novembro de 2025, acontecerá a COP 30, a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Belém, e a 2ª Marcha Nacional por Reparação e Bem Viver. É fundamental reconhecer a força da mobilização daqueles que se reúnem para pautar políticas verdadeiramente responsivas às necessidades da população negra no cotidiano das cidades, do campo, das florestas e das águas.

Sem a pretensão de dar respostas definitivas, mas com a certeza de que o diálogo é indispensável para encontrar o sentido do trabalho que temos pela frente, tecemos os fios dessa trama a partir do que sabemos e do que aprendemos com vozes como as de Rosa Negra, do Movimento Sem Terra; Gisele Brito e Flávia Santana, do Movimento Saracura – Vai Vai; Lays Franco, da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais; Sarah Marques, do Coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste; Lídia Lins, do Ibura Mais Cultura; Luize Sampaio, da Casa Fluminense; Frente Ilê Odé; Ariana Alencar, da Rede Nordeste de Monitoramento e Incidência de Conflitos Fundiários do IBDU; Priscilla Rocha, do Centro de Justiça Racial e Direito da FGV e Helena Silvestre escritora e educadora popular.

E, já que vamos falar de acesso à terra, que as autoras encontrem terra fértil para seus projetos políticos. Que os frutos do que plantamos transformem a realidade da escassez, alimentem o corpo das que têm fome e nos permitam fazer nossas denúncias e nossa luta com muita beleza e alegria de nos vermos umas nas outras.

Reiteramos o agradecimento ao apoio da Fundação OAK, que viabiliza o pagamento de bolsas para as colunistas e a publicação dos livros digitais e o projeto em pleno funcionamento desde 2021.

Boa leitura!

Coordenação da Coluna Tecendo Democracias e Territórios do Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico

O Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico, por meio do eixo “Apoio às Marielles” do planejamento anual de 2020, objetiva ampliar as narrativas e olhares sobre os territórios, valorizando seus sentidos para as mulheres negras e indígenas de nossas cidades.

A luta pela democratização do acesso à terra, pelo direito à moradia digna e pelo direito à cidade sustentável no Brasil é estruturalmente antirracista. Porém, essa condição foi ignorada historicamente pela branquitude, seja na produção de conhecimento, seja na formulação da legislação e de políticas públicas, de tal forma que o Direito Urbanístico e a Política Urbana devem ser repensados a partir da interseccionalidade entre classe, raça e gênero.

Como uma das formas de o Instituto somar-se às lutas antirracistas, notadamente um movimento civilizatório liderado pelas mulheres negras e indígenas, nasce a primeira coluna do IBDU. É um espaço em construção que propõe articular pensadoras, coletivas, movimentos e organizações que buscam combater as opressões de raça e gênero como estratégia de reinvenção da democracia. Queremos potencializar o aprendizado com e entre as mulheres, historicamente invisibilizadas e silenciadas, detentoras da experiência, das práticas e saberes de cuidado com a reprodução da vida, que articulam ancestralidade e modernidade como nenhum outro grupo social.

A coluna foi gerida de dentro para fora, passo a passo de um processo de reflexão, alianças, aprendizados e conquistas institucionais. A semente foi proposta e idealizada pela primeira conselheira negra do IBDU, Jessica Tavares, em uma reunião do Conselho de Gestão em junho de 2020. Ideia incentivada, abraçada e regada pela também conselheira e integrante do coletivo fundador do Instituto, Patricia de Menezes. Juntas, colocamos no papel o desejo compartilhado por esse espaço, que foi acolhido e apoiado institucionalmente pela Coordenadora Executiva do IBDU, Helena Marques, pela Vice-Diretora Geral, Fernanda Costa, e pela Diretora Geral, Betânia Alfonsin. A partir desse acolhimento, a curadoria da coluna passou a contar com a participação de direção executiva na equipe e a compor o novo projeto de captação para o fortalecimento e “escurecimento” do IBDU. Paralelamente, no segundo semestre de 2020 fizemos um mapeamento junto à rede de associadas e associados do Instituto para indicações de pensadoras, grupos de estudo e pesquisa, coletivos, movimentos sociais e organizações para contribuir com o projeto, momento em que identificamos referências em todas as regiões do país. Em maio de 2021, conquistamos o apoio da Fundação OAK, que viabilizará o pagamento de bolsas para as colunistas e a publicação de um livro digital. No início do segundo semestre deste ano, convidamos as mulheres indicadas a colaborar com o projeto. Em diálogo com as colaboradoras que atenderam ao convite, aperfeiçoamos a abordagem da coluna – que foi além das mulheres negras – e definimos a contratação exclusiva de mulheres negras ou indígenas para a prestação de serviços.

Nesse primeiro ciclo de vida da coluna Mulheres Tecendo Democracias e Territórios do IBDU, celebramos e anunciamos a parceria com 16 colunistas para ocupar o espaço das nossas mídias sociais mensalmente entre outubro de 2021 e maio de 2022, como uma porta aberta para trocas e anunciações que contribuam para a reinvenção de futuros.

Coluna

Quem tece a democracia nos nossos territórios?

Coordenação

Cuidadoria dos textos

O momento da cuidadoria é um exercício de dedicação e atenção para o pensamento apresentado pelas autoras, ou seja, é necessariamente afetuoso, mas também político.

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