Empatia é o que move Simone Inocêncio Teixeira, 46 anos. Quando saiu de Damolândia (GO), aos 14 anos, rumo à capital, sua família se viu em dificuldades para se manter e ao mesmo tempo pagar por um aluguel. Como ela mesma diz, era “revoltante acompanhar a situação de sua família”. Em 1993, por conta de sua necessidade pessoal, passou a integrar o movimento chamado Sociedade Habitacional Comunitária (SHC). Naquela época, já era casada, estava grávida e continuava no aluguel. Ao saber do movimento, se associou e começou a participar das reuniões. “Morava em um espaço com dois cômodos e um banheiro “, conta.
A empatia mencionada acima se deve ao fato de que o engajamento da luta por melhores condições de vida e habitação atendeu a muitas e muitas famílias atendidas pelo movimento, sem que ela própria fosse contemplada. Um dos primeiros projetos do qual participou foi o do Vale dos Sonhos, desde a compra até a regularização do terreno para o início das obras. O terreno, a partir de muita luta, foi colocado na extensão urbana, onde hoje moram mais de mil famílias, incluindo alguns parentes de Simone. Sua atuação foi percebida e, em seguida, foi convidada a liderar o Movimento pela Reforma Urbana de Goiânia (MRU-GO). “Me destaquei no grupo por ter postura e pela minha dedicação em transformar vidas”, afirma.
E mesmo após a conquista de sua casa, ela seguiu (e segue) atuando por muitas outras pessoas que passaram o mesmo que ela. “Tive uma mudança de vida a partir do que conquistei, mas porque não seguir em frente para ajudar os outros?”. Assim como não desanimou quando não foi contemplada nos primeiros projetos, não arrefeceu quando teve seu nome incluído em um projeto social habitacional. “Depois de realizado meu sonho, vi que o mesmo poderia ser sonhado por outros”.
Vinte anos após ter ingressado no movimento, ela consolidou sua conquista. Essa mãe de um casal de filhos e avó de dois netos hoje é moradora do Residencial Xangrilá, ao norte de Goiânia, considerado um dos “filhos’” do empreendimento Vale do Sol. “Adquirimos glebas de terras financiadas e, depois, veio a luta pela construção, que foi feita 30% em regime de mutirão e, o restante, com a participação das próprias famílias”, conta. “Estou há 28 na luta e posso dizer que a participação popular faz você despertar de uma forma estrondosa, especialmente quando você ama o que faz”, garante a líder do MRU-GO, organização que conta com 1.800 associados que mantêm o mesmo sonho que ela.
Foto: Arquivo Pessoal/Simone Teixeira.
Texto: Luciana Radicione (FNA).